Vida de Bob Marley

“Sobreviver e Lutar” pode ser o lema de qualquer nascente de periferia espalhado pelo mundo; poucas oportunidades e condições de vida complicadas são situações que se repetem nas histórias de quem “veio de lá”. A história é de Robert Nesta Marley, ou para os íntimos somente Bob Marley. Nasceu em 06 de Fevereiro de 1945, na cidadezinha do interior chamada Sant Ann, Bob Marley. Marley é mais um caso de um jovem negro que nasceu no interior e depois se mudou para a periferia de uma cidade qualquer, para lutar contra as adversidades e conquistar uma vida digna ou, de forma mais simples, digna de um trecho da música Vida Loka Parte 2, dos Racionais MC’s:

“Às vezes eu acho que todo preto como eu
só quer um terreno no mato, só seu
Sem luxo, descalço, nadar num riacho
Sem fome, pegando as frutas no cacho”

A infância de Bob

Criado pela mãe e por familiares da parte materna, estes últimos responsáveis por apresentar a música para o menino. Bob viu seu pai poucas vezes depois do seu nascimento. Seu pai Norval Marley, era um capitão britânico que estava de passagem por kingston a mando do governo britânico e conheceu a mãe de Bob quando ela tinha apenas 16 anos e ele aproximadamente 60. Norval casou-se com Cedella Booker, mãe de Bob, em 1945, mas sua família britânica reprovava o seu casamento.

A curiosidade que marca a infância de Marley é o seu tom de pele, por ser descendente de inglês ele era chamado de “Garoto Vermelho” pelos moradores de Sant Ann’. Morador de uma cidade do interior, na infância era responsável pelos afazeres rurais como ordenhar o rebanho, cultivar horta e nos momentos de folga aprender um pouco sobre música com os parentes mais velhos.

A mudança para Trenchtown

“O caminho
Da felicidade ainda existe
É uma trilha estreita
Em meio à selva triste”

Trenchtown é uma comunidade composta por favelas localizada no subúrbio da capital Kingston, na Jamaica. Bob teve duas passagens por Trenchtown, uma marcada pela molecagem, aos 5 de anos de idade, outra para se estabilizar junto com a família, já aos 12 anos, se aprofundar na música e mais tarde se transformar no Astro do Reggae.

Na primeira passagem, o menino Bob tinha apenas 5 anos de idade e mudou-se para Trenchtown para estudar. As curiosidades que marcam a primeira passagem por Trenchtown são: O último encontro com o Pai e o abandono da escola,voltando assim para Sant Ann, cidade onde nasceu.

No final dos anos 50, quase um adolescente, Bob retorna para TrenchTown e começa a trilhar seu caminho. Apesar de um lugar muito pobre, a comunidade era rica culturalmente servindo como inspiração para muitas músicas que o músico escreveu durante sua passagem por lá.

No início da década de 60, o ritmo SKA que era composto pela interpretação local, o soul americano e o R&B, se populariza como principal ritmo jamaicano, tomando a indústria musical da ilha. O ritmo surge com uma forte influência nos jovens jamaicanos, um pingo de esperança e fuga para aqueles que viviam sem expectativa em trenchtown.

O inicio dos Wailers

Depois de sair da sua terra natal, em busca de uma vida melhor, e se mudar para periferia de Kingston, Bob faz da música o sentido da sua vida. O futuro astro do reggae veio de uma família pobre e não havia muita perspectiva de vida/crescimento em outras áreas, senão dedicar-se por inteiro a música.

Guiado pelo filho do seu padrasto, Bunny Wailer, Bob começa fazer aulas de música enquanto ainda frequenta a escola normal, até que a música começa aflorar no menino, a ponto dele largar as aulas normais e se dedicar completamente a música.

A virada para música na vida do menino acontece quando ele conhece Desmond Dekker, um soldador que trabalhava junto com ele e que havia gravado uma música.

(Bob trabalhou como soldador “obrigado” pela mãe, que tinha medo dele virar um “rude boy”, uma espécie de deliquente em TrenchTown).

Desmond serviu como espelho e um combustível a mais para Bob Marley se dedicar a música. Pouco tempo depois, aos 16 anos, Bob grava a primeira música chamada “JUDGE NOT”, isto ocorreu no ano de 1962. A música gravada serviu como poder de barganha para juntar os nomes que futuramente formariam os “The Wailers”, Peter Tosh, Bunny Wailer e o próprio Bob Marley.

Ao contrário do que pode-se imaginar, tecnicamente Bob não eraumo exímio instrumentista, mas aos poucos foi se aprimorando. Um fato inegável é que Bob sempre esteve cercado de excelentes músicos, desde a época do “The Wailers” até sua carreira solo. Agora de fato seu carisma e sua genialidade foram fatores determinantes para a trajetória de sucesso tanto do “The Wailers” quanto sua carreira solo.

Você pode saber um pouco mais sobre o ínicio dos Wailers e o lançamento do primeiro álbum Clicando aqui.

União da Raça Negra (rastafari)

“um amor, um coração, um destino, um objetivo”

Um dos lemas da religião rastafari é a união da raça negra, além de tantas outras. Aos 18 anos a religião Rastafari passa a fazer parte da vida de Bob. O movimento rastafari surgiu na Jamaica, nos anos 20, pelos escravos e descendentes de negros com o objetivo de união da raça negra e uma vida simples. Jah Rastafari é a divindade máxima do movimento rasta, é ele o responsável por guiar e instruir os caminhos de cada devoto.

Assumindo como modelo de vida, Bob Marley assume algumas particularidades para a sua vida como: a ingestão de frutos e vegetais, tudo que vier da natureza, e a não ingestão de animais mortos e álcool. Sem contar os tão marcantes dreadslocks, que viraram assinatura do astro.

Os lemas da doutrina ficam ainda mais presentes em suas músicas:

Todo cunho político e rovolucionário que a doutrina traz, mais a esperança e positividade são expostas em One Love.

A Erva

A erva para o idolo do reggae era parte da conexão com a divindade máxima. Era o momento de reflexão do Rasta, o momento mais propício para criação e inspiração de cada membro Rastafari. Dessa forma, a maconha era tão presente na vida de Bob Marley e, por muitas vezes, sendo atrelado de forma errônea, como parte de um vício.

A maconha sempre esteve associada a questão religiosa e não a um simples vício ou lema bastante adotado por exemplo pelo rock, “Sexo, drogas e rock n’ roll”.

A Carreira

Depois de dois anos só ensaiando com os “The Wailers”, em 1964, eles embalam um hit que toma todas as jukebox jamaicanas, o sigle “Simmer Down”.

A música ficou em primeiro lugar nas paradas jamaicanas e popularizou “os lamentadores” pela jamaica. Bob embalou vários hits na Jamaica, mas o problema financeiro do país atrapalhou a continuação da banda. Com a separação, Bob Marley foi morar nos Estados Unidos junto da mãe, que havia se mudado para tentar uma vida nova. A mudança para Bob era estratégica, apenas um período onde ele pudesse sustentar o seu sonho maior, viver de música.

Aos 20 anos de idade e com o sucesso que havia alcançado na Jamaica, Bob Marley se mudou para os EUA, o objetivo era começar uma vida nova. Bob havia se casado com jovem chamada Rita Anderson. Porém as coisas não acontecerem da forma como Bob havia planejado, a passagem pelos EUA foi curta e ele retornou depois 8 meses apenas.

A volta a terra mãe

Ao voltar para Jamaica em outubro de 1966, o astro reorganiza a formação dos Wailers e a partir daí começa a luta pela estruturação da banda, passando por diversas gravadoras e produzindo várias músicas. Quando Bob voltou pela primeira vez a Jamaica a religião Rastafari havia ganho ainda mais força, e sua volta acabou marcando de vez o encontro do astro com a religião que o guiará pelo resto da vida, é notório a mudança nas composições do idolo do reggae pós “mergulho” na religião, temas sociais e espirituais tomam a frente das criações e viram marca registrada no legado do astro.

Projeção

No ínicio dos anos 70, apesar da aclamação nacional que os Wailers tinham na Jamaica, ainda permaneciam no underground internacional. A virada internacional acontece quando Bob Marley e sua trup conhecem Chris Blackwell, dono da Island Records, gravadora conceituada e independente que tinha, em sua maioria, artistas do rock no seu casting. Chris é procurado por Bob Marley para sanar um problema que acompanhou toda a caminhada dos Wailers, a falta de grana. O astro do reggae consegue convencer o dono da gravadora e a Island da o aval para gravação do álbum, que até então, seria o divisor de águas na carreira de Bob Marley e os The Wailers.

Catch a Fire foi lançado em 13 de abril de 1973 e ganhou o mundo e, de quebra, os Wailers também. Algumas apresentações aovivo pela Europa e Estados Unidos ajudaram ainda mais a consolidar a banda no mundo.

O trabalho de Bob e sua trup ganhou tanta relevância no cenário internacional que grandes astros da música começaram a admirar o trabalho do rei do reggae. Celebridades importantes como Paul McCartney, Mick Jagger e Eric Clapton são alguns dos nomes, este último chegou a regravar umas das músicas de Bob Marley, alavancando ainda mais os trabalhos de Marley.

Finalmente Bob Marley havia conseguido alcançar a projeção internacional que de certa forma havido ido em busca na sua primeira saída da Jamaica para os EUA.

A serenidade de Bob Marley, aliada as suas letras de protesto, paz e engajamento na vida política ficaram marcadas na história da música com uma acervo de 14 álbuns de estúdio mais 4 álbuns aovivo sem contar os vários singles e gravações inéditas que foram divulgadas pós-morte do ídolo.

Para saber mais sobre o acervo músical do astro, acesso a parte de discografia. do site.

A Luta de Bob Marley

Os ideais de Bob Marley sempre foram as inspirações para as suas composições. Sempre “gritadas” do fundo do coração em cada apresentação por Marley, como um grito de libertação. Temas como positividade, política, engrandecimento da raça negra são recorrentes em praticamente todos os álbuns do cantor. A trilogia final “Survival, Uprising e Confrontation” são exemplos dessas lutas de Bob. O lançamento de Survival em 1979 marca o álbum mais politizado de todos. “Survival” tinha como tema os problemas sociais e políticos pelos quais o continente africano passava, como guerras, fome e o empobrecimento da raça negra. A músicas Zimbabwe, por exemplo, soou como hino de libertação daquele povo.

Uprising é o último álbum de Bob Marley ainda vivo, e é o álbum que mais tem influências do rastafari, o que mais trata de religião e como é essa relação de um ser divino com as pessoas comum. Um exemplo disso é Redemption Song:

Old pirates, yes, they rob I
Sold I to the merchant ships
Minutes after they took I
From the bottomless pit
But my hand was made strong
By the hand of the Almighty
We forward in this generation
Triumphantly

E o último álbum da trilogia, Confrontation, foi lançado pós-morte de Bob Marley e foi uma junção de vários singles inéditos da carreira de Bob Marley e sua trup. Com uma capa bem polêmica, que faz alusão a São Jorge Guerreiro, mas com Bob Marley montado no cavalo lutando contra o dragão que representa a Babilônia, que para Bob Marley e os rastas são referências de tudo que acontece de ruim para o povo.

O atentado a Bob Marley

“Porque o guerreiro de fé nunca gela
Não agrada o injusto, e não amarela”

Em 1976, a Jamaica passava por um momento político bastante instável, Bob Marley já era um grande nome da Jamaica nas paradas de sucesso, por causa disto foi convidado para um show gratuito no evento chamado “Smile Jamaica” organizado pelo primeiro ministro jamaicano da época, Michael Manley. Bob aceitou o convite pois acreditava estar ajudando o povo de sua terra, mas a verdade é que o ministro estava mais preocupado com as eleições do que ajudar as pessoas do país de fato, tanto é que convocaria as eleições duas semanas após o evento com Bob Marley. De certa forma poderíamos dizer que Bob Marley foi enganado. O aceite de Marley não soou muito bem entre os grupos políticos opositores e no dia do show, homens armados invadiram a casa do cantor e efetuaram vários disparos contra sua banda e a mulher. Bob foi atingido no braço e no peito. Apesar de Bob ter ficado com uma bala alojada no braço, ninguém ficou gravemente ferido, mas houve uma hesitação dos músicos para a realização do show.

Mais de 80 mil pessoas aguardavam ansiosamente pelo músico naquela noite, apesar do forte clima de tensão, Bob Marley aparece para cantar e é ovacionado pelo público quando abre os botões de sua camisa e mostra as feridas em seu peito.

Paixão pelo Futebol

Não é difícil encontrar por aí várias fotos do astro do reggae se divertindo com uma “pelota”. Jogar futebol era um hobby muito presente na vida de Bob Marley, algumas fontes citam que um dos pré-requisitos para Bob assinar um contrato de turnê era que tivesse um campo e uma bola por perto. Com muita habilidade e desfilando seus dreads, Bob Marley dizia que amava o futebol, pois para praticá-lo teria que ser habilidoso.

Em uma das suas fançanhas no esporte, podemos destacar o dueto com Chico Buarque em terras Brasileiras. O astro do reggae + País do futebol. Se quiser saber mais sobre a história, veja um pouquinho na resenha de Jean Sampaio, nos textos da comunidade.

O futebol esteve presente na vida de Bob Marley do seu nascer até a sua morte. Segundo o seu documentário, a descoberta do câncer, que seria a causa do seu falecimento posteriormente, foi através de um machucado gerado durante uma partida de futebol. Durante o seu sepultamento, uma bola de futebol foi enterrada junto ao seu caixão, simbolizando tudo que o futebol representou na vida do astro.

Morte de Bob Marley

Citado no trecho anterior, Bob foi diagnosticado com câncer depois que um machucado no pé, gerado pós uma partida de futebol, não sarava conforme o esperado.

Bob acabava sua turnê pela europa e havia agenda marcada para uma breve turnê pela America do Norte, durante sua primeira apresentação, Marley passou mal e ao passar pelos exames foi diagnosticado com o câncer. Foi sugerido a amputação do dedo prejudicado, mas o astro se recusou seguindo os ensinamentos da doutrina Rasta. Os Rastafaris acreditam que o corpo é um templo e ele deve ser preservado e não deve ser modificado. Marley não aceitava o tratamento tradicional do câncer pelos médicos. O câncer se espalhou pelo cérebro, pulmão e estômago, até que Bob Marley encontra um tratamento alternativo e naturalista de um médico Alemão, depois de 8 meses de tratamento não havia mais nada para se fazer.

Em Maio de 1981, o médico anuncia que nada mais poderia fazer pelo astro, Bob Marley então, resolve voltar para a cidade natal, mas não consegue completar a viagem de volta e acaba falecendo em Miami-EUA.

Legado

Suas composições, seus feitos, prêmios e as mensagens de protesto e positividade, são parte do legado que Bob Marley deixou para o mundo. Além de ter mostrado para o mundo a sua Jamaica, tão rica culturalmente, mostrou para o mundo o Rastafari e o reggae. Deixou para Trenchtown, a famosa favela sem esperança, um suspiro de esperança que “Sim, é possível”.

Seus feitos também foram reconhecidos pelos prêmios que ganhou durante a vida e pós morte. Vale destacar o prêmio de banda do ano de 1976, one love como música do milenio pela BBC, Exodus como o álbum do século, grammy (pós-morte) pelas obras e a contribuição para o mundo da sua arte, ordem ao mérito jamaicano, hall da fama do rock e outras honrarias.

Nota do autor: O paralelo entre Bob Marley e algumas músicas do Racionais é uma forma de ilustrar e tornar mais palpável o cenário que circundava a vida do astro do reggae e que se repete em muitas histórias no nosso país.